lunes, 7 de abril de 2014

LEARNING FROM THE MASTER IV: Rubem Fonseca



http://www.sitiodolivro.pt/fotos/livros/9789720071736_1349965281.jpg


"José sempre se perguntava: o que era preciso para que uma pessoa se tornasse um escritor? Ele tinha algumas certezas. A primeira, óbvia: era necesario gostar de ler, aprende-se a escrever lendo. O único escritor analfabeto tinha sido Catarina de Siena, que viveu no século XIV em Roma. Mas ela era uma santa e isso podia ser considerado um milagre.

Ele achava imposible alguém produzir um livro “ditando”. O livro tinha que ser escrito de preferência ser digitado numa máquina, mas também aceitava os que eram escritos à mão. Havía exceções que deixavam perplejo, como Milton, cego, ditando a obra-prima Paraíso perdido. […]

E isso seria suficiente para a pessoa se tornar um escritor? Gostar de ler e de digitar palavras? José sabia que o mais importante requisito era “motivaçao”, essa energia psicológica, essa tensão que põe em movimento o organismo humano, determinando um certo comportamento. José sabia que se o aspirante a escritor não tiver uma motivaçao forte escreverá quando muito alguns poemas de dor de cotovelo, alguns contos, talvez mesmo um romace, mas logo desistirá. José estava certo de que na reallidade a motivaçao de cada escritor está essencialmente ligada à sua vida, sua experiência, desejos, ambições, sonhos, pesadelos. Não interessa o tipo de motivaçao, apenas tem que ser suficientemente forte.

José estava motivado, mas sabia que necessitava de outros requisitos, um deles “paciência”, não a resignação conformista, mas a capacidade de perseverar, de enfrentar com autocontrole as dificuldades que surgiram durante o processo, a paciência para controlar a su pressa sem deixar de tê-la, o que pode ser simbolizado pela frase favorita do imperador Augusto, segundo o historiador clássico Suetônio: Festina lente. “Apressa-te devagar”, o que parece um paradoxo, mas não é. O filósofo Edmund Burke disse: “Nossa paciência conseguirá mais do que nossa força”. Mas José sabia que além de tudo isso precisava ter imaginação. Ele podia usar a realidade, como Balzac, Zola e outros, mas sabia que sem imaginação não conseguiria escrever um bom texto de ficção. Sem imaginação não existia literatura e ele lembrava-ses de uma frase de Burckhardt, “a imaginação era mãe da ficção, a mãe da poesia e até mesmo a mãe da História”.

Além de tudo isso, José sabia que precisava ter coragem de dizer o que era proibido de ser dito, coragem de dizer o que ninguém queria ouvir. Ele já falou sobre isso inúmeras vezes [...]"      


* José, Rubem Fonseca, Sextante Editora, Porto, 2012.


No hay comentarios: