La librería Lello e Irmão, que es, a decir de Vila-Matas, la librería más hermosa del mundo, está a estas horas incendiada por los flashes de los turistas. Es difícil sortear el fuego cruzado de las cámaras digitales, y uno se pregunta en cuantos de esos pequeños chips habrá quedado atrapado con cara entre de gilipollas y de mala hostia. Subo, bajo esa escalera central que tiene algo de osamenta de animal prehistórico y que, de no estar tan superpoblada, le haría a uno pensar en los grabados imposibles de Escher. Husmeo por donde puedo y me dejan, y voy picoteando entre los anaqueles a los que nadie se arrima. Al final me quedo con lo que sigue.
* Leyla PERRONE-MOISÉS, Fernando Pessoa. Aquém do eu, além do outro, Martins Fontes, São Paulo, 2001. Un libro fascinante, escrito con pasión y devoción pessoana, que recoge textos redactados por esta profesora paulista durante los años setenta y ochenta.
"Pessoa forçou a língua portuguesa a uma tal capacidade de materializar abstrações, a uma tal sobriedade para dizer o excessivo, a uma tal definição para dizer o indefinido, que, depois dele, todo derramamento de tipo sentimental, toda facilidade de retórica decorativa aparecem como erros imperdoáveis. Podemos dizer, sem receio de engano, que Pessoa deixou sua marca de inventor de uma nova língua poética, em todos os poetas portugueses e brasileiros que vieram depois. Quer queiram, quer não, eles têm de enfrentar esse antecedente excessivo.
O Vácuo-Pessoa revela-se, assim, como un Excesso-Pessoa. Excesso de língua, como todo grande poeta, Pessoa fez com que o português transbordasse dos limites que lhe reconheciam antes de sua passagem.
Excesso de língua, Excesso-Pessoa. Pessoa "ele mesmo" é um lugar vago, mas as questões levantadas pela "coterie" Pessoa são uma sobra. O sujeito esvaziou-se como tal, dando entretanto a deixa da questão do sujeito -a questão de uma determinada experiência do sujeito na prática poética." (P. 44)
"Na poesia "doente" de Pessoa, a língua portuguesa exibe uma impressionante saúde, uma agilidade, uma capacidade de precisão igual à sua capacidade de sugestão. Em seus projetos políticos, Pessoa via a língua como uma arma fundamental do imperialismo cultural que sonhava para seu país. Na prática, o que vem realizando essa ação da língua portuguesa (não uma ação "imperialista", mas uma ação alargadora e integradora de culturas) é a própria poesia de Pessoa, que os da fala portuguesa reconhecem como uma "pátria" e que vem despertando, nos de outras falas, um desejo de língua portuguesa." (P. 88)
"A sensação de ser diverso, variável, múltiplo, nada tem de filosoficamente ou psicologicamente novo; o que é original em Pessoa, e radicalmente moderno, é a experiência de certo "sujeito vazio", que não se beneficia mais do conforto logocêntrico, nem se ilude mais com a falsa unidade "profunda" da pessoa psicológica. Experiência terrível, quando não circunscrita ao terreno da atividade artística, da especulação teórica ou da prática religiosa, mas vivida conflituosamente, como o foi por Pessoa, no cotidiano e na carne. Porque, para Pessoa, o cotidiano foi sua poesia, e o corpo desencarnou-se, cifrado nos rastros de tinta sobre o papel, atestando indefinidamente sua impossibilidade de sentir-se real e inteiro." (P. 96)
"Na história da poesia moderna, Pessoa - o existente quase inexistente, o desistente- foi, talvez, o ponto em que mais intensamente o sujeito poético viveu o drama de sua crítica dispersão." (P. 126)
Descubro además una editorial portuense, más o menos pequeña y más o menos underground, que luce un nombre algo autodestructivo: Edições Mortas. En su página web, se presentan así: "As Edições Mortas traduzem por escrito toda uma época literariamente destroçada, truncada à base de signos despedaçados e objectos perdidos na imaginação transimbólica das sagradas escrituras e todos os seus desmistificados evangelhos numa práxis de inutilidade teórica, artística e cultural. As Edições Mortas é um cadáver que dá à luz três, seis ou nove vezes ao ano, o novo homem morto que recusa proclamar toda a espécie de literatura".
[Las Ediciones Muertas disponen también de un BLOG]
* LIBERATO, Manual do desempregado.
"Este foi o ministro que o tio Sam, condecorou:
Pela grandeza épica
Com base nas Lages
Três submarinos comprou
Para os pescadores verem navios
Há dois meses sem subsídios
Sem ganharem um cèntimo
Por faltar um centímetro
Á grandeza da sardinha
Este foi o ministro que o tio Sam, condecorou:
Pela luta que travou contra a Invasão da Legião
do Rendimento Mínimo
E foi Garantido."
(O Subdesemprego, P. 36)
* Fernando MORAIS, A inscrição na lápide.
"O nosso personagem e a companheira tinham uma experiência de anos de receber camaradas, de com eles conviver em perfeitas condições. Mas aqueles dois, não eram mais que dois oportunistas da burguesia, fazendo-se passar por revolucionários, doentes de clandestinite aguda, e sem qualquer contacto com as massas.
Quer dizer o Partido mantinha aqueles dois oportunistas no seu seio para irem de reunião em reunião, viajando por cima da realidade, sem qualquer actividade militante, como se existíssemos num mundo de autómatos." (P. 45).
A. Pedro RIBEIRO, Saloon.
"Na merda
a cair
enclausurada
Queimo as cartas
as palavras
os retratos
E o deserto dói
o deserto mata
Ao telefone
os amigos falham
E nada sai
nada vem
desse lado do espelho.
(Na Merda, P. 34)
Y por último:
* Mário DE SÁ-CARNEIRO, Manucure - Diários, Alma Azul, Coimbra, 2005.
"Sim, sim! Sou eu o primeiro homem que não morre!... No entanto, não encontrei a fórmula do elixir da longa vida...
...
Um pensamento me atravessou agora o espírito: Serei um louco?... Talvez... é possível... Sou um louco... Um louco... Que me importa? Quero saber! Quero saber!...
...
Os ponteiros avançam...
Um minuto... trinta segundos... quinze segundos... um tiro..."
(Últimas anotaciones en sus Diários, P. 59)
1 comentario:
saludos devueltos.
Llegué aquí buscando rastros de Ballard, y luego descubrí que también habias hablado bastante de Lowry.
Así que llevo un par de días dando vueltas en tus archivos.
Me quedaré por aquí, a ver que encuentro.
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